quarta-feira, 27 de maio de 2009

A gola antiga...

De uma velha mala guardada no canto do sótão surgiram velharias com cheiro a vivências e recordações do passado.Cada peça lembrava um momento, uma festa, um carinho, uma saudade!
No meio daquela panóplia dos tempos idos surge um velho vestido embelezado com uma gola preta bordada a palha que a minha mãe variava isto é usava em várias peças pois naquela altura as abundâncias não eram muitas!
Lembro-me de a minha mãe dizer que aquela beleza era feita no Faial e também me lembro de ela ter também um véu com a mesma origem com que cobria a cabeça para ir à igreja pois naquela altura as mulheres não entravam na igreja de cabeça descoberta, era considerado uma falta de respeito!


Senti uma vontade de aproveitar aquela relíquia e resolvi restaurá-la e adaptá-la a um fato qualquer, Foi como se tivesse um pouco da minha mãe de volta!
Eis o resultado...
Como ao restaurar o dito trabalho fiquei curiosa para saber mais sobre aquele tipo de artesanato, fui investigar e encontrei um trabalho de uma faialense, Maria Eduarda Fagundes, radicada no Brasil que vivênciou na sua infância a execução deste belo trabalho artesanal que para mim é uma arte a qual o descreve do seguinte modo:

"O tule, fina trama de fios de seda, algodão ou nylon, vinha enrolado em largas réguas de papelão da casa Santos & Lacerda na Horta, onde papai trabalhava.
Depois de cortado, era colocado e preso por alfinetes,a um molde de papel manteiga onde o desenho se mostrava para ser executado.
Os fios que preenchiam a trama, eram em geral de seda ou de palha de trigo tratada em fumeiro de enxofre, para adquirir o brilho dourado. Após essa etapa, abria-se cada canutilho de palha em cinco fitas muito finas, passando-o num fuso pequeno e delicado de osso de cachalote ou de madeira. O miolo delas era retirado por um canivete, bem afiado, passando-as entre a lâmina e o dedo gordo, previamente protegido por uma dedeira de couro grosso, obtendo-se assim delgadas fitinhas douradas de uns 20cm., que cortadas em bísel numa das extremidades se transformavam ao mesmo tempo em linhas e agulhas do bordado!
Sentadas em redor, mamã e as senhoras que trabalhavam com ela executavam o minucioso bordado. Mãos hábeis e ágeis , com movimentos intrincados mas precisos, faziam surgir sobre o tule figuras delicadas que enchiam os olhos de admiração e beleza. Mantilhas, blusas, véus, depois de prontos, eram cuidadosamente arranjados artisticamente e embalados em papel de seda e enviados pelo correio, em caixas, do Faial para as outras ilhas do arquipélago açoriano (S. Miguel,Terceira,Graciosa, Pico ), Madeira, e até para Lisboa, Canadá e Estados Unidos".

2 comentários:

  1. Prezada Clara Maria

    A tua indumentária ficou de fato uma "lindeza", como dizem os mineiros, merece muitas reprises.

    Mamãe, senhora faialense de 82 anos, ficou espantada ao saber que os açorianos mais novos não conhecem o bordado em palha de trigo, trabalho que deveria ser resgatado pela originalidade e beleza.

    Os Açores deveriam investir naquilo que os outros não têm; na preservação cultural do seu povo e na sua natureza. só assim serão atrativos para o bom turismo.
    Um abraço
    Maria Eduarda Fagundes

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  2. Ó Clara francamente não te reconheci,julgava que era uma americana,só quando te vi junto ao Ivo é que exclamei«mas é a Clara»!!! parab´´ens à dona da gola,é linda.Beijinhos para toda a família.Bom uso.M.José.

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