domingo, 9 de abril de 2017

Esparregado em dia de ramos:


Hoje foi dia de ramos! O dia em que a igreja lembrou a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, antes da sua paixão e morte. O povo cortou ramos e ramagens de árvores, para cobrir o chão onde jesus passava montado num jumento e aclamou-o com ramos de palmeiras.
Abrindo,este dia, a Semana Santa, a Igreja costuma recriar o episódio bíblico que atrás se descreve .
Neste dia já se comem folares e amêndoas e no continente também se come bola- de- carne .
A minha mãe referia-se a este  dia  como "dia de grãos" e dizia que não se deviam meter folhas na panela, isto numa clara referência aos ramos que aclamaram Jesus. Portanto, desde criança, que vi lá em casa cozinhar-se   canja com arroz, sopa de grão, papas de arroz, milho cozido etc., nada que levasse folhas!
E sendo criada assim  e porque religião não é só aquilo em que acreditamos mas também o modo como vivemos, quando tive a minha própria casa e a responsabilidade de pôr a mesa, tive sempre o cuidado de, neste dia, seguir esta regra ou esta tradição familiar.
Tive , digo bem, pois infelizmente isso hoje não aconteceu, a regra foi quebrada como passo a contar:
Na minha horta, tenho um lindo canteiro de nabos forrageiros, daqueles que se apanham as folhas e ficamos à espera de mais, ontem olhando para eles verifiquei que havia grandes e belas folhas que se podiam apanhar, e se bem o pensei melhor o fiz, toca de apanhar, lavar e cozer em água abundante  e sal os ditos para ficarem a escorrer durante a noite. Pela manhã, bastante alho picadinho e azeite a alourar, na panela, enquanto picava muito picadinho os nabos que foram a saltear no azeite e depois de misturar com um béchamel temperadinho com um pouco de pimenta estava pronto à espera do almoço.
Sentados à mesa deliciávamo-nos com uma bela carnina assada acompanhada com o dito prato e diz o meu marido:
_ Estes nabos fizeram um belo esparregado!
_Ó diabo, e hoje que não é dia de comer folhas !- Lamento eu - Nunca me lembrei!
Foi uma falha que me entristeceu, no próximo ano tentarei seguir o que aprendi, porque gosto de manter as tradições  familiares e esta tradição embora simples é reveladora de um passado histórico que os cristãos não podem esquecer...

Não tenho vergonha de dizer:

Sim, não tenho vergonha de dizer, que quando andava a estudar, chegadas as férias da Páscoa e de Natal assim como as férias grandes, como então se chamavam, ia muito depressa para casa, porque os meus pais precisavam de mim para ajudar nas tarefas de casa, e assim a minha mãe ficava mais livre para fazer os seus trabalhos de costura, nos quais eu também participava, e que ajudariam a custear os meus estudos...
Não tenho vergonha de dizer que acabado o meu curso do Magistério Primário, o grupo organizou uma viagem a Lisboa para celebrar tal acontecimento e eu embora tivesse imensa vontade de ir, não fui porque me faltou coragem de pedir aos meus pais mais aquele sacrifício, embora tenha a certeza de que se tivesse falado nisso eles teriam concordado, mas não, disse às minhas colegas que tinha medo de andar de avião e a coisa ficou mesmo assim. Na verdade eu não sabia se tinha medo pois nunca entrara num avião, nem num barco nem num comboio e nunca ficara num hotel, muito menos sabia para que lado ficava Lisboa, só dos livros, estava ávida dessas experiências, mas não fui, lá foram elas e eu fiquei em terra a sonhar , coisa que faz parte do meu destino: - sonhar!!
Tenho é vergonha de pensar que actualmente alguns dos nossos jovens com tudo o que têm ao seu dispor, não sabem aproveitar o sacrifício dos pais que tudo fazem para os ver felizes, não sabem valorizar o que têm, não sabem brincar nem divertir-se. É lamentável...
No nosso país tivemos e temos homens e mulheres de quem nos orgulhamos, que reverenciamos, que lembramos e relembramos, e os homens e mulheres que produzimos ???
Como se revelarão, no futuro, os jovens actuais, os que produzimos, aqueles em quem depositamos a nossa esperança???Embora não se possam nivelar todos pela mesma bitola,há jovens de muito valor, graças a Deus, a ter em conta o que se passou, esta semana num hotel de Torremolinhos, Espanha, em que um um grupo de cerca de mil estudantes, segundo as notícias, foi expulso por actos de vandalismo, acontecimento  semelhante ao verificado em anos anteriores, não podemos ter grande orgulho nem esperança no que produzimos mas sim vergonha, isto é que é uma vergonha!

( Imagem copiada da NET )